A
primeira verdade é que o fruto do Espírito é de origem sobrenatural. Isto é
evidente, porque as qualidades alistadas são o fruto do Espírito. O próprio
Espírito Santo é responsável por sua produção. Eles são resultados do que o
Espírito planta na vida das pessoas que ele preenche.
Também
no contexto isto fica evidente, pois “o fruto do Espírito” é contrastado
intencionalmente com “as obras da carne”. “A carne”, na linguagem de Paulo,
geralmente não se refere à substância que recobre nosso esqueleto, mas
representa a nós mesmos, todo nosso ser, aquilo que somos por natureza,
decaídos, pecaminosos e egoístas. “O Espírito”, por sua vez, não é uma parte de
nós, o nosso espírito, mas o Espírito Santo de Deus, do próprio Deus que mora
nas pessoas cristãs e está empenhado em transformá-las na imagem de Cristo. À luz
desta distinção entre “carne” e “Espírito” podemos dizer que “as obras da carne”
são atos que praticamos naturalmente, quando
limitamos aos nossos recursos, e “o fruto do Espírito” consiste de qualidades
que o Espírito faz surgir em nós de maneira sobrenatural
(porque elas estão além da nossa capacidade natural), quando colaboramos
com ele.
Quando
dependemos de nós mesmo, o que surge naturalmente são pecados como “prostituição,
impureza, lascívia [...] bebedices, glutonaria” (v. 19,21), enquanto o fruto
sobrenatural do Espírito é exatamente o contrário, virtudes como “confiabilidade,
humildade, domínio próprio”. Quando agimos por conta próprio, nós nos rebelamos
contra Deus e caímos em “idolatria e feitiçaria” (v. 20), porém o Espírito
Santo nos conduz ao “amor, alegria e paz”. Igualmente, as obras da carne são
comportamentos anti-sociais como “inimizades, porfias, ciúmes, iras,
discórdias, dissenções, facções, invejas” (v. 20,21), enquanto o fruto
correspondente do Espírito é “longanimidade, benignidade, bondade”.
Portanto,
fica claro que, por natureza, todos os nossos relacionamentos são falhos. Desviamo-nos
de Deus para ídolos. Desentendemo-nos com outras pessoas e vivemos em
discórdia. Desculpamo-nos em vez de nos controlarmos. Viver em harmonia com
Deus e com as pessoas, e manter-se sob controle, são obras sobrenaturais da
graça de Deus. É o “fruto do Espírito”.
Na verdade,
este fruto (a soma de todas estas qualidades cristãs) é a melhor evidência que
alguém pode apresentar de ter em si a plenitude do Espírito Santo – por causa
da sua solidez e objetividade. A verdadeira prova de uma atuação profunda do
Espírito de Deus em algum ser humano não são suas experiências subjetivas e
emocionais, nem sinais espetaculares, mas qualidades morais, como Cristo as
teve. Creio que um cristão, que alega ter tido experiências grandiosas, mas não
tem amor, alegria, paz bondade e domínio de si, vai causar em todos nós a
impressão de que algo está errado com suas alegações. Um outro cristão que,
sejam quais forem suas experiências e dons, traz em seu caráter um aroma suave
do Senhor Jesus, certamente será preferido para companhia. Isto porque vemos
nele uma marca da graça de Deus em um templo do Espírito Santo.
Stott,
John. Batismo e plenitude do Espírito
Santo: O mover sobrenatural de Deus. São Paulo: Vida Nova, 2007. p. 81,82.
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