VERSÍCULO
CHAVE:
“Também
disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha
ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais
domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela
terra. (Gênesis 1:26)”
“Vinde,
adoremos e prostremo-nos; ajoelhemos diante do SENHOR, que nos criou. (Salmos
95:6)”
MÉTODO DE ESTUDO
O grande objetivo deste estudo é que o aluno tenha um
encontro com Deus através de Sua Palavra. Fundamentado na convicção de que as
Escrituras são a inspirada e infalível Palavra de Deus, este estudo foi
planejado de tal forma que é literalmente impossível para o aluno prosseguir
sem uma Bíblia aberta diante dele. Nosso objetivo é obedecer a exortação do
apóstolo Paulo em 2 Timóteo 2:15: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como
obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da
verdade.”
Cada lição lida com um tema específico relacionado à
doutrina do homem. O aluno irá completar cada lição respondendo às questões de
acordo com os textos bíblicos fornecidos. O aluno é encorajado a meditar sobre
cada texto e escrever suas considerações. O benefício alcançado a partir deste
estudo dependerá do investimento do aluno. Se o aluno responde as questões
impensadamente copiando o texto e sem buscar entender seu significado, muito
pouco será conquistado.
O aluno irá descobrir que isto é antes de tudo um estudo
Bíblico, e não contém muito no caminho de ilustrações coloridas, histórias
fantásticas, ou mesmo comentários teológicos. Era nosso desejo fornecer um
trabalho que apontasse apenas para o caminho das Escrituras, e permitisse que
as Escrituras falassem por si mesmas.
Este livro pode ser usado um indivíduo, um pequeno grupo, ou
escola bíblica dominical. É altamente recomendável que o aluno conclua cada
capítulo por si próprio antes de se encontrar para discussão e questionamento
com o grupo ou líder de discipulado.
EXORTAÇÃO AO ALUNO
O aluno é encorajado a estudar a doutrina Bíblica e
descobrir sua elevada posição na vida cristã. O verdadeiro cristão não pode
suportar ou mesmo sobreviver a um divórcio entre as emoções e o intelecto, ou
entre a devoção a Deus e a doutrina de Deus. De acordo com as Escrituras, nem
nossas emoções nem nossas experiências fornecem um fundamento adequado para a
vida cristã. Apenas as verdades da Escritura, entendidas com a mente e
comunicadas através da doutrina, podem fornecer aquele infalível fundamento
sobre o qual nós devemos estabelecer nossas crenças e comportamento, e determinar
a validade de nossas emoções e experiências. A mente não é a inimiga do
coração, e a doutrina não é um obstáculo à devoção. Ambas são indispensáveis e
deveriam ser inseparáveis. As Escrituras nos ordenam a amar ao Senhor de todo o
nosso coração, de toda a nossa alma, e com todo o nosso entendimento (Mateus
22:37), e adorar a Deus tanto em espírito quanto em verdade (João 4:24).
O estudo da doutrina é uma disciplina tanto intelectual
quanto devocional. É uma busca apaixonada pela verdade de Deus que deverá
sempre levar a grande transformação pessoal, obediência e adoração sincera.
Portanto, o aluno deve estar prevenido contra o grande erro de buscar apenas
conhecimento impessoal, e não a pessoa de Deus. Nem a devoção negligente, nem a
procura meramente intelectual são produtivas, pois em ambos os casos, Deus não
é honrado.
Sumário
•A Criação do Homem
•A Queda de Adão
•A Queda da
Humanidade
•Morte espiritual e
inabilidade moral
•Escravidão a Satanás
•O caráter e a
Universalidade do Pecado
•A Disposição de Deus
em relação ao Pecador
•O Julgamento de Deus
contra o Pecador
•O Julgamento Final
do Ímpio
•Inferno
Lição 1: A Criação do Homem
As Escrituras nos ensinam que o homem não é um acidente ou o
resultado de alguns processos impensados, mas a obra criativa do Deus eterno.
Após ter Deus criado todas as outras criaturas, Ele formou o primeiro homem,
Adão, a partir do pó da terra, soprou o fôlego de vida em suas narinas e ele se
tornou um ser vivente. A partir de Adão, Deus então formou a mulher, Eva, para
ser sua companheira e auxiliadora. A eles foi ordenado que multiplicassem e
enchessem a terra que foi colocada sob seu domínio. Toda a humanidade possui a origem
comum nesta união de Adão e Eva.
A Escritura é clara que tanto homem quanto mulher foram
criados por Deus e para Deus, e encontram sentido para sua
existência apenas ao amá-lO, glorificá-lO, e ao fazer Sua vontade. Singulares
entre todas as criaturas, apenas eles foram criados à imago dei, ou
imagem de Deus, e somente a eles foi concedido o privilégio de viver em pessoal
e ininterrupta comunhão com Ele.
Estas verdades são de grande importância para nós, pois elas
definem quem nós somos e o propósito para o qual nós fomos criados. Nós não
somos os autores de nossa própria existência, mas fomos trazidos à existência
pela graciosa vontade e poder de Deus. Nós não pertencemos a nós mesmos, mas ao
Deus que nos criou para Seus próprios propósitos e para sua satisfação. Buscar
separar-se de Deus é separar de nós mesmos a vida. Viver independentemente de
Sua pessoa e vontade é negar o propósito para o qual fomos criados.
1. No segundo capítulo de Gênesis é encontrado o relato das
Escrituras da criação do homem. Baseado em Gênesis 2:7, resuma este relato. O
que ele comunica a nós sobre a origem do homem e seu relacionamento com Deus?
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2. No segundo capítulo de Gênesis também é encontrado o
relato da criação da primeira mulher, Eva. Baseado em Gênesis 2:21-23, resuma o
relato bíblico da criação da mulher. O que ele comunica a nós a sobre a origem
da mulher e seu relacionamento com Deus?
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3. Tendo estabelecido a verdade de que o homem é a obra
criativa de Deus, devemos considerar sua singularidade entre o resto da
criação. De acordo com as seguintes frases de Gênesis 1:26, qual a
singularidade do homem em relação ao resto da criação?
a. Façamos o homem…
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Nota: Deus não diz, “Haja,” como com o resto
da criação (1:3, 6, 14), mas “Façamos.” Isso comunica a ideia de uma relação
pessoal mais importante. A conjugação do verbo na primeira pessoa do plural do
presente do conjuntivo (Façamos…), tem duas possíveis interpretações:
(1) É um plural de majestade. Era comum apresentar a realeza mencionando-a como
uma pluralidade. (2) É uma referência à Trindade. A criação envolve o Pai, o
Espírito (Gênesis 1:2) e o Filho (João :1-3; Colossenses 1:16).
b. À nossa imagem…
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Ajuda: Deus não diz “segundo sua espécie,”
como com o resto da criação (1:11-12, 21, 24-25), mas “à nossa imagem.” A
humanidade é singular entre a criação, pois somente dela é dito que carrega a imago
dei ou imagem de Deus. A imagem de Deus pode referir-se ao seguinte: Personalidade
– Adão e Eva eram criaturas pessoais e autoconscientes. Eles não eram meros
animais movidos por instinto ou máquinas programadas para responder a certos
estímulos. Espiritualidade - As Escrituras declaram que “Deus é
Espírito” (João 4:24), e portanto é razoável esperar encontrar o mesmo atributo
no homem que foi criado à imagem de Deus. Adão e Eva eram mais do que barro animado,
eles eram espirituais, providos de uma genuína capacidade de conhecer a Deus,
ter comunhão com Deus, e responder a Deus em obediência, adoração e ação de
graças. Conhecimento – Em Colossenses 3:10, as Escrituras descrevem um
aspecto da imagem de Deus como tendo um verdadeiro conhecimento de Deus. Isso
não significa que Adão e Eva conheciam tudo o que se pode conhecer de Deus –
uma criatura finita nunca pode compreender plenamente um Deus infinito. Mais
precisamente, significa que o conhecimento que eles possuíam era puro ou
genuíno. Autodeterminação ou Vontade – Adão e Eva foram criados com uma
vontade, eles possuíam o poder da autodeterminação, e lhes foi concedida a
liberdade de escolher. Imortalidade – Embora Adão e Eva tenham sido
criados e, portanto, tiveram um começo, e embora cada momento de suas próprias
existências dependesse do favor de seu Criador, eles foram dotados com uma alma
imortal – uma vez criada, ela nunca deixaria de existir. A imortalidade da alma
deveria levar todos os homens a considerar cuidadosamente a apavorante
responsabilidade da autodeterminação. Uma vez que a alma é eterna, as escolhas
que fazemos terão consequências eternas das quais não haverá escapatória.
c. Tenha ele domínio…
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Ajuda: Ao homem e à mulher foi dado o
privilégio e a responsabilidade de dominar sobre toda a criação como
vice-regentes de Deus. Seu domínio não deveria ser independente do domínio de
Deus, mas em perfeita conformidade com Sua vontade. Eles deveriam reinar para o
benefício e o cuidado da criação, e para a glória de Deus.
4. Em Gênesis 1:26-28, nós aprendemos que o homem é singular
entre o resto da criação, pois somente Ele foi criado à imagem de Deus. Nas
seguintes passagens das Escrituras, vamos descobrir que, apesar de o homem ser
singular, ele compartilha um propósito comum com o resto da criação – ele não
foi criado para si mesmo, mas para a glória e a satisfação de Deus. O que as
seguintes passagens das Escrituras nos ensinam a respeito desta verdade?
Salmo 104:31
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Romanos 11:36
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Colossenses 1:16
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5. As Escrituras ensinam que o homem e a mulher foram
criados por Deus e para Deus, e encontram sentido para sua
existência apenas ao amá-lO, glorificá-lO e ao fazer Sua vontade. Nós não somos
os autores de nossa própria existência, mas fomos trazidos à existência pela
graciosa vontade e poder de Deus. Nós não pertencemos a nós mesmos, mas ao Deus
que nos criou para seus próprios propósitos e satisfação. Em vista destas
grandes verdades, como a humanidade deveria reagir?
a. Reverência: Salmo 33:6-9
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b. Adoração: Salmo 95:6
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c. Serviço: Salmo 100:2-4
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d. Amor: Marcos 12:30
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e. Glória e Honra: 1 Coríntios 10:31
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Lição 2: A Queda de Adão
De acordo com Seu próprio intento e beneplácito, Deus criou
Adão e Eva e ordenou que eles não comessem da árvore do conhecimento do bem e
do mal. A obediência à ordem levaria a uma vida contínua, tanto de alegre
comunhão com Deus tanto de domínio sobre a criação. A desobediência à ordem
levaria à morte espiritual e física e todos os males decorrentes delas.
Adão e Eva foram tentados e desobedeceram à ordem. Por causa
de sua desobediência, sua comunhão com Deus foi quebradas e eles caíram de seu
estado original de justiça e santidade. Tais consequências devastadoras da
desobediência de adão não foram limitadas a ele, mas resultaram na queda de
toda a raça humana. Apesar de as Escrituras não removerem todo o mistério que
cerca esta grande verdade, elas afirmam que o pecado e a culpa de Adão foram imputados,
ou creditados, a todos os seus descendentes, e que todos os homens sem exceção
são agora nascidos carregando a natureza caída de Adão e exibindo a hostilidade
de Adão para com Deus.
Estes pontos serão discutidos nas lições que se seguem,
começando com a Queda de Adão.
A Queda de Adão
Após ter Deus criado Adão à Sua imagem, Ele lhe deu uma
simples ordem: “Da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás.” Um
aviso seguiu esta proibição: “No dia em que dela comeres, certamente morrerás”
(Gênesis 2:17). A obediência de Adão para com Deus o levaria a um contínuo ou
possivelmente até mesmo maior estado de felicidade. Sua desobediência levaria à
morte.
1. Em Gênesis 2:16-17 são encontrados a ordem e o
aviso dados a Adão. Leia o texto até que você se familiarize com seu conteúdo e
então responda às seguintes perguntas:
a. De acordo com o versículo 16, que privilégio Deus deu
a Adão? Como tal privilégio prova que Deus se importava com Adão e não
desconsiderava suas necessidades?
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b. De acordo com o versículo 17, que proibição foi dada a
Adão? O que foi dito a Adão para que não fizesse?
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c. De acordo com o versículo 17, qual seria a pena pela
desobediência à ordem de Deus?
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2. Em Gênesis 3:1-6 é encontrado o registro bíblico
de como Adão e Eva foram tentados a desobedecer à ordem de Deus. Leia o texto
até que você se familiarize com seu conteúdo, e então responda às seguintes
perguntas:
a. No versículo 1, as Escrituras declaram que uma
serpente literal tentou a Eva. De acordo com Apocalipse 12:9 e 20:2,
quem era aquele trabalhando na serpente e através da serpente?
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b. De acordo com os versículos 4 e 5, que promessa
Satanás fez a Eva?
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c. De acordo com o versículo 6, como Eva e seu esposo
Adão responderam à tentação de Satanás através da serpente?
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3. Gênesis 3:7-10 registra os resultados imediatos
da desobediência de Adão e Eva. Leia o texto diversas vezes até que você se
familiarize com seu conteúdo e então escreva seus pensamentos. Quais foram os
resultados da desobediência deles?
a. Versículo 7
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b. Versículos 8-10
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Nota: (a) Com um ato de desobediência, Adão e Eva caíram
de seu estado original de justiça para a corrupção moral. Seus corações e
mentes não eram mais puros, mas se tornaram maculados e vergonhosos. As
coberturas que eles fizeram com folhas de figueira foram uma tentativa
impotente de esconder sua vergonha, seu pecado, e sua corrupção. (b) O pecado
sempre resulta em medo e separação de Deus. O homem pecaminoso foge da santa
presença de Deus e teme Seu justo julgamento.
4. Tendo considerado os resultados imediatos da
desobediência de Adão, vamos agora considerar os julgamentos divinos que caíram
sobre a serpente, Eva, e Adão. Leia Gênesis 3:14-24 e então descreva
tais julgamentos que afetaram a todos nós:
a. O Julgamento Divino sobre a Serpente (vs. 14-15):
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b. O Julgamento Divino sobre a Mulher (v. 16):
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Nota: A frase: “Teu desejo será para teu marido,”
pode descrever uma das seguintes opções: (1) O relacionamento da mulher com seu
marido seria marcado pelo anelo e a falta de satisfação. (2) A mulher que
buscou independência de Deus agora teria um desejo exagerado ou uma ânsia pelo
homem. (3) O relacionamento entre o homem e a mulher seria marcado pelo
conflito; a mulher “desejaria” dominar seu marido, e seu marido exerceria seu
“domínio” sobre ela. A terceira interpretação parece especialmente provável à
luz de uma construção de palavras similar em Gênesis 4:7: “Se, todavia,
procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti,
mas a ti cumpre dominá-lo.”
c. O Julgamento Divino sobre o Homem (vs. 17-19):
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5. No divino julgamento sobre a serpente em Gênesis 3:14-15
é encontrada uma das maiores promessas da salvação em toda a Bíblia (v.
15). Esta promessa foi chamada de protoevangelho [Latim: proto,
primeiro + evangelium, evangelho]. Escreva seus comentários sobre este
texto.
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Nota: Jesus Cristo é a eventual “semente” ou
descendência da mulher. Na cruz, Satanás feriu o calcanhar de Cristo (isto é,
Cristo foi ferido, mas não mortalmente; Ele ressuscitou dos mortos). Através da
mesma cruz, Cristo feriu a cabeça de Satanás (isto é, Satanás foi ferido
mortalmente; ele foi derrotado para sempre).
Questões Importantes Sobre a Queda
O registro das Escrituras sobre a queda fornece a única
explicação adequada para o presente estado decaído do homem e o mal que nos
cerca. É também mediante este plano de fundo tenebroso que as resplandecentes
glórias da misericórdia e da graça de Deus surgem. Nossa compreensão mínima das
glórias de Cristo e Seu Evangelho é diretamente proporcional ao nosso
entendimento da tragédia de Adão e sua condenação.
Em nosso estudo da queda, nos deparamos com algumas das
questões mais importantes e complexas de todas as Escrituras: a origem do mal,
a natureza da liberdade humana, a soberania de Deus, e Seu eterno propósito. Ainda
que o que conhecemos a respeito de tais questões será sempre envolto em um
determinado grau de mistério, é necessário que nos esforcemos por conhecer o
que pudermos. Façamos as seguintes questões:
Como Adão pôde cair?
Deus ordenou a queda?
Qual o propósito eterno de Deus na queda?
COMO ADÃO PÔDE CAIR?
As Escrituras afirmam que a queda não ocorreu devido a
nenhuma falha no Criador. Todas as obras de Deus são perfeitas (Deuteronômio
32:4), Ele não pode ser tentado pelo pecado (Tiago 1:13), nem pode Ele tentar
outros com o pecado (Tiago 1:13). A culpa pela queda repousa perfeitamente
sobre os ombros de Adão. Como Eclesiastes 7:29 declara: “Eis o que tão-somente
achei: que Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias.”
Esta verdade apresenta um dos maiores problemas teológicos
em todas as Escrituras: como é possível que uma criatura criada à imagem de
Deus veio a escolher o mal e o pecado? Adão e Eva tinham uma verdadeira
inclinação para o bem, e não havia nenhuma corrupção ou mal neles para qual a
tentação pudesse apelas. Como tais justos seres puderam escolher o mal ao invés
do bem, e escolher as palavras de uma serpente ao invés das ordens de seu
Criador, está além da compreensão humana.
Houve numerosas tentativas ao longo da história de explicar
a queda de Adão, mas nenhuma delas deixa de ter suas limitações. Devemos,
portanto, nos contentarmos com a simples verdade da Escritura que, embora tenha
Deus feito o homem justo e santo, ele era finito e mutável (isto
é, sujeito a mudança) e capaz de fazer uma escolha contrária à vontade de Deus.
DEUS ORDENOU A QUEDA?
A palavra ordenar significa colocar em ordem, dispor,
ou designar. Perguntar se Deus ordenou a queda é perguntar se ele a
colocou em ordem, a dispôs, designou que ela ocorresse. Outras palavras que
carregam significado similar são: “decretar”, “predeterminar”, e “predestinar”.
Deus determinou de antemão ou decretou que a queda deveria ocorrer? A resposta
para esta pergunta é “sim”, mas nós devemos ter muito cuidado com o que isto significa
e o que isto não significa.
A ordenança de Deus da queda não significa que Ele
forçou Satanás a tentar nossos primeiros pais, ou que Ele os coagiu a desprezar
Sua ordem. O que as criaturas de Deus fizeram, elas fizeram por sua própria
vontade. Deus é santo, justo, e bom. Ele não peca, não pode ser tentado pelo
pecado, Ele não tenta ninguém ao pecado.
A ordenança de Deus da queda significa que isto era
certo de acontecer. Foi da vontade de Deus que Adão fosse testado, e foi da
vontade de Deus deixar que Adão tanto se mantivesse de pé quanto caísse sozinho
sem o auxílio divino que poderia tê-lo impedido de cair. Deus poderia ter
impedido que Satanás dispusesse a tentação diante de Eva, ou à face de tal
tentação, Ele poderia ter dado a Adão uma graça sustentadora especial para
capacitá-lo a triunfar sobre ela. A partir do testemunho das Escrituras, entendemos
que Ele não fez isso.
A ordenança de Deus da queda também significa que ela foi
parte de Seu plano eterno. Antes da fundação do mundo, antes da criação de Adão
e Eva e a serpente que os tentou, antes da existência de qualquer jardim ou
árvore, Deus ordenou a queda para Sua glória e o bem maior de Sua criação. Ele
não meramente permitiu que nossos primeiros pais fossem tentados e então
esperou para reagir a qualquer escolha que eles viessem a fazer. Ele não
meramente olhou através dos corredores do tempo e viu a queda. Mas a queda era
uma parte do plano eterno de Deus, e Ele predeterminou ou predestinou que ela
deveria e iria acontecer.
Neste ponto, uma questão muito importante surge:
“Deus é o autor do pecado?”
Esta questão pode e deve ser respondida com uma forte
negativa. Deus não é o autor do pecado, nem coage o homem a pecar contra Ele.
Embora Ele tenha predeterminado que a queda deveria e iria
acontecer, Ele também predeterminou que ela deveria acontecer através das ações
voluntárias de Satanás, Adão e Eva. Ainda que nossas mentes finitas não possam
compreender plenamente como Deus pode ser absolutamente soberano sobre todo
evento da história e sobre cada ato individual sem destruir a liberdade
individual, as Escrituras abundam em exemplos que demonstram que isto é
verdade. José foi vendido à escravidão através do pecado deliberado de seus
irmãos, e ainda assim, quando a história final foi contada, José declarou: Vós,
na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus intentou para
o bem, para fazer o que se vê neste dia, isto é, conservar muita gente com
vida” (Gênesis 50:20 AA). O Filho de Deus foi crucificado como o resultado do
pecado deliberado do homem e a hostilidade para com Deus, e ainda assim Deus ordenou
ou predeterminou a morte de Cristo antes da fundação do mundo. Nas Escrituras
nós lemos:
“… sendo este [Jesus] entregue pelo determinado desígnio
e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mão de iníquos.”
-Atos 2:23
“Porque verdadeiramente se ajuntaram nesta cidade contra
o teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste, Herodes e Pôncio Pilatos, com gentios
e gente de Israel, para fazerem tudo o que a tua mão e o teu propósito
predeterminaram.” -Atos 4:27-28
A partir das Escrituras, nós vemos que Deus ordena ou
predetermina um evento para que ele ocorra e ainda assim faz com que ele
aconteça através do pecado deliberado do homem. Ele faz isso sem que seja o
autor dos pecados dos homens ou coagindo-os para que o façam sem que seja da
vontade deles. Homens ímpios deliberadamente pregaram Jesus Cristo à cruz e
foram responsáveis por suas ações, mas o evento inteiro estava de acordo com o
plano predeterminado de Deus. A queda de Satanás, e a queda da raça humana mais
tarde através de Adão e Eva, foram resultados de seus próprios pecados pelos
quais apenas eles são responsáveis, e ainda assim os eventos aconteceram de
acordo com o ordenado, predeterminado, predestinado plano de Deus. Deus
decretou um grande propósito eterno para Sua criação, e ordenou cada evento da
história pelos quais tal propósito está sendo cumprido. Nada, nem mesmo a queda
do homem ou a morte do Filho de Deus, ocorre à parte do decreto soberano de
Deus.
“Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do
conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão
inescrutáveis, os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou
quem foi o seu conselheiro? Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser
restituído? Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas.
A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” -Romanos 11:33-36
“…nele, digo, no qual fomos também feitos herança,
predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o
conselho da sua vontade…” -Efésios 1:11
QUAL O PROPÓSITO ETERNO DE DEUS NA QUEDA?
Tendo demonstrado que a queda foi resultado da desobediência
deliberada da criatura e ainda assim de acordo com o eterno propósito de Deus,
agora é necessário que nos esforcemos por conhecer tal propósito eterno. À luz
do mal e do sofrimento que resultaram da queda, pode parecer difícil aceitar
que possa ter havido qualquer bom propósito nela. Todavia, a Palavra de Deus
nos assegura que existe tal propósito.
Sabemos a partir das Escrituras que a criação do universo, a
queda do homem, a nação de Israel, a cruz de Cristo, a Igreja, e o julgamento
das nações têm um grande e derradeiro propósito: Que a plenitude dos
atributos de Deus seja revelada a Sua criação e que toda a criação O conheça, O
glorifique, e deleite-se plenamente n’Ele como Deus.
A Plena Revelação dos Atributos de Deus
Deus criou o universo para ser um teatro sobre o qual Ele
possa exibir a infinita glória e valor de Seu ser e seus atributos, para que
Ele seja plenamente conhecido, adorado, e apreciado por Sua criação. Foi dito
por muitos que a queda do homem é o céu negro sobre o qual as estrelas dos
atributos de Deus brilham com a maior intensidade de glória. É apenas através
da queda e o advento do mal que a plenitude do caráter de Deus pode ser
verdadeiramente conhecida.
Quando um Cristão adora a Deus, quais são os atributos que
lhe parecem mais queridos? Não são a misericórdia, a graça e o amor
incondicional de Deus? Não são estes atributos divinos mais exaltados em todos
os grandes hinos da Igreja? Mas como estes atributos poderiam ser conhecidos
senão através da queda do homem? O amor incondicional somente pode ser
manifesto sobre homens que não correspondem às condições. A misericórdia
somente pode ser derramada do trono de Deus sobre homens que merecem a
condenação. A graça somente pode ser concedida a homens que não fizeram nada
para merecê-la. Nossa decadência é nosso feito, pelo qual somos obrigados a
assumir plena responsabilidade. Ainda assim é através do teatro negro de nossa
decadência que a graça e a misericórdia de Deus são postas no centro do palco e
brilham sobre um público tanto de homens quanto de anjos. É na salvação dos
homens caídos que a sabedoria, a graça e a misericórdia de Deus são reveladas,
não apenas ao homem, mas também a todo ser criado nos céus, na terra e no
inferno.
Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande
amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida
juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e, juntamente com ele, nos
ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus para
mostrar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza da sua graça, em bondade para
conosco, em Cristo Jesus. -Efésios 2:4-7
A mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graça
de pregar aos gentios o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo e
manifestar qual seja a dispensação do mistério, desde os séculos, oculto em
Deus, que criou todas as coisas, para que, pela igreja, a multiforme sabedoria
de Deus se torne conhecida, agora, dos principados e potestades nos lugares
celestiais. -Efésios 3:8-10
A Plena Revelação das Glórias de Cristo
A maior obra de Deus é a morte e a ressurreição do Filho de
Deus para a salvação do povo de Deus. Contudo, se o homem não tivesse caído,
não haveria Calvário e nem Salvador. A própria coisa que mais elucida a Deus
(João 1:18), nos atrai para Ele (João 12:32), e faz com que O amemos (1 João
4:10, 19) desapareceria. O que tomaria seu lugar? Que outros meios poderiam ter
sido usados para demonstrar as imensuráveis misericórdias de Deus? Cristo
crucificado é o grande tema de todo digno hino, sermão, conversação, e
pensamento cristãos. Sem a queda, a redenção seria desconhecida a nós. Nós
seríamos como os anjos, anelando perscrutar algo que nós nunca poderíamos
experimentar (1 Pedro 1:12).
É errado, e beira a blasfêmia, até mesmo insinuar que a cruz
de Cristo foi um mero Plano “B” que foi posto em prática somente por causa da
escolha errada de Adão no jardim. A cruz é o evento principal para o qual
qualquer outra obra da providência de Deus aponta. Todas as coisas permanecem
em sua sombra. De uma forma, a cruz foi necessária por causa da queda, mas por
outro lado, a queda foi necessária para que as glórias de Deus na cruz de
Cristo pudessem se dar a conhecer plenamente.
A Plena Revelação da Dependência da Criatura
Uma das verdades mais impressionantes sobre Deus é que Ele é
absolutamente livre de qualquer necessidade ou dependência (Atos 17:24-25). Sua
existência, o cumprimento de Sua vontade, e Sua alegria ou beneplácito não
dependem de nada nem ninguém fora de Si mesmo. Ele é o único ser que é de fato
autoexistente, autossustentado, autossuficiente, independente e livre. Todos os
outros seres derivam suas vidas e felicidades de Deus, mas Deus encontra tudo o
que é necessário para Sua própria existência e perfeita alegria em Si mesmo
(Salmo 16:11; Salmo 36:9).
A existência do universo requer não apenas o ato inicial da
criação, mas também o contínuo poder de Deus para sustentá-lo (Hebreus 1:3). Se
Ele retirasse Seu poder mesmo por um momento, tudo se tornaria caos e
destruição. Esta mesma verdade pode ser aplicada ao caráter dos seres morais,
quer sejam anjos ou homens. Adão no paraíso e Satanás no céu, ainda que tenham
sido criados justos e santos, não poderiam permanecer em pé à parte da graça
sustentadora de um Deus Todo-Poderoso. Quão menos somos nós capazes de
permanecer em pé e quão mais rapidamente cairíamos à parte da mesma graça
sustentadora? A queda, portanto, fornece o maior exemplo de nossa constante
carência de Des. Se não podemos continuar nossa existência além de nosso
próximo fôlego exceto pela preservação de Deus, quão menos somos capazes de
manter qualquer aparência de justiça diante d’Ele à parte de Sua graça? (João
15:4-5; Filipenses 2:12-13).
Proximos capítulos em breve ...
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