A Morte de Cristo
N. 173
Sermão pregado na
manhã de Sábado, 24 de janeiro de 1858,
por Charles Haddon Spurgeon,
No Music Hall, Royal Surren Garden.
“Contudo
foi da vontade do Senhor esmagá-lo e fazê-lo sofrer, e, embora o Senhor faça da
vida dele uma oferta pela culpa, ele verá sua prole e prolongará seus dias, e a
vontade do Senhor prosperará em sua mão.”
Isaías
53:10
Que
miríades de olhos estão lançando seus olhares para o sol! Que multidão de homens
levantou seus olhos e observou as órbitas estelares do Céu! Elas são
constantemente observadas por milhares – mas existe uma grande transação na
história do mundo a qual merece todos os dias muito mais espectadores do que
aquele sol que sai como um noivo, forte para iniciar sua corrida. Há um evento
que atrai, todos os dias, muito mais admiração do que o sol, a lua e as
estrelas conseguem, quando marcham em seus percursos. Esse evento é a morte do
nosso Senhor Jesus Cristo – a isto os olhos de todos os santos que viveram
antes da era Cristã sempre estiveram direcionados – e para trás, através dos
milhares de anos de história, os olhos de todos os santos olham para ela! Os
anjos no Céu olham constantemente para Cristo. "Coisas que até os anjos anseiam
observar," (1 Pedro 1.12) disse o Apóstolo. Em Cristo os inumeráveis olhares
dos redimidos estão fixados. E milhares de peregrinos, por esse mundo de
lágrimas, não têm objeto melhor para sua fé, nem desejo melhor para sua visão
do que ver Cristo enquanto ele está no Céu e em comunhão para observar a Sua
Pessoa! Amados, teremos muitos conosco enquanto, nesta manhã, voltarmos a nossa
face para o monte do Calvário. Não seremos espectadores solitários da temerosa
tragédia da morte do nosso Salvador. Nós devemos lançar nossos olhares para o
lugar que é o foco da alegria e do prazer do Céu – a Cruz do nosso Senhor e
Salvador Jesus Cristo!
Tomando
o nosso texto como guia, devemos visitar o Calvário, esperando ter a ajuda do
Espírito Santo enquanto olhamos para Aquele que morreu na Cruz. Quero que vocês
notem esta manhã, antes de tudo, a causa da morte de Cristo "foi da vontade
do Senhor esmagá-lo."‖"Foi da vontade de Jeová esmagá-lo"‖ diz o original. "E
fazê-lo sofrer."‖ Em segundo lugar, a razão da morte de Cristo – "O Senhor faça
da vida dele uma oferta pela culpa."‖ Cristo morreu porque ele foi uma oferta
pelo pecado. E depois, em terceiro lugar, os efeitos e as consequências da
morte de Cristo. "Ele verá sua prole e prolongará seus dias, e a vontade do
Senhor prosperará em sua mão."‖ Venha, Espírito Sagrado, enquanto nós atentamos
a falar sobre estes temas incomparáveis!
I.
PRIMEIRO, nós temos aqui A ORIGEM DA MORTE DE CRISTO. "Contudo foi da
vontade do Senhor esmagá-lo e fazê-lo sofrer."‖ Aquele que lê a vida de Cristo
como mera história, associa a morte de Cristo com a inimizade dos judeus e com
o caráter inconstante do governador romano. Nisto ele age com justiça, pois a
morte e o pecado da morte de Cristo devem bater à porta da humanidade. Essa
nossa corrida torna-se um deicídio e matou o Senhor e pregou o seu Senhor em um
madeiro! Mas aquele que lê a Bíblia com os olhos da fé – desejando descobrir os
seus segredos – vê algo mais na morte do Salvador do que a crueldade romana ou
a malícia judaica. Ele vê o decreto solene de Deus cumprido pelos homens, que
foram os ignorantes, mas instrumentos culpados de sua realização! Ele olha para
a lança e a haste romanas, para os insultos e zombarias dos judeus, para a
Fonte Sagrada, da qual todas as coisas fluem e traçam a crucificação de Cristo
ao peito da Deidade! Ele concorda com Pedro – "Este homem lhes foi entregue por
propósito determinado e pré-conhecimento de Deus; e vocês, com a ajuda de
homens perversos, o mataram, pregando-o na cruz."‖ Não devemos imputar a Deus o
pecado, mas ao mesmo tempo o fato, como todos os seus efeitos maravilhosos na
redenção do mundo, de que nós devemos sempre traçar para a Fonte Sagrada do
Amor Divino. Como faz o nosso Profeta. Ele disse, ―foi da vontade de Jeová
esmagá-lo.‖ Ele despreza tanto Pilatos quanto Herodes, e traça para o Pai
celestial, a primeira pessoa na Divina Trindade - "Foi da vontade do Senhor
esmagá-lo e fazê-lo sofrer."‖
Agora,
Amados, há muitos que pensam que o Deus Pai não é nada além de um espectador
indiferente da salvação. Outros O difamam ainda mais. Olham para Ele como um
Ser sem amor, severo, que não teve nenhum amor para com a humanidade e que só
poderia se tornar amável através da morte e das agonias de nosso Salvador. Isso
é uma difamação suja com a Graça justa e gloriosa do Deus Pai, a quem devemos
sempre dar honra – pois Jesus Cristo não morreu para tornar Deus amável – Ele
morreu porque Deus era amável! –
“Não
foi para fazer o amor de Jeová,
Ao
redor de Seu povo arder,
Que
Jesus do Trono acima,
Um
homem sofredor se tornou.
Não
foi a morte que Ele suportou,
Nem
todas as dores que Ele suportou,
Que
o amor eterno de Deus procurou,
Pois
Deus era amor antes.”
Cristo
foi enviado ao mundo pelo Seu Pai com consequência da afeição do Pai pelo seu
povo. Sim, Ele "amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para
que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." (João 3.16)
O fato é que o Pai decretou tanto a salvação, como tanto a efetuou, e
deleitou-se tanto nela quanto o fez o Deus Filho e o Deus Espírito Santo! E
quando nós falamos do Salvador do mundo, devemos sempre incluir nessa palavra,
se falarmos em sentido amplo, Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo – pois
todos esses Três, como um só Deus, nos salvam de nossos pecados! O texto tira
todo o pensamento pesado sobre o Pai ao dizer que foi da vontade de Jeová
esmagar Jesus Cristo. A morte de Cristo leva ao Deus Pai! Vamos tentar ver
isso.
Primeiramente,
ela leva a um decreto. Deus, o único Deus do Céu e da Terra, tem o Livro do
Destino inteiramente em Seu poder. Neste livro não há nada escrito pelas mãos
de um estranho. A caligrafia do solene Livro da Predestinação é, do começo ao
fim, inteiramente Divina. –
“Acorrentado
a Seu trono está um volume,
Com
todos os destinos dos homens-
Com
todas as formas e tamanhos de anjos
Feitos
pela pena eterna”
Nenhuma
mão inferior esboçou sequer a mínima parte da Providência. Ela foi toda, do seu
Alpha, ao seu Ômega, do seu prefácio Divino, ao seu final solene, marcada,
projetada, esboçada e planejada pela mente do Sábio, Onisciente Deus. Portanto,
nem mesmo a morte de Cristo está isenta disso! Aquele que levanta um anjo e
guia um pardal; Ele que impede que os nossos cabelos caiam de nossas cabeças
prematuramente, quando Ele se preocupa com coisas tão pequenas, para omitir em
Seus solenes decretos a maior maravilha dos milagres da terra – a morte de
Cristo! Não, a página daquele Livro manchada de sangue, a página que faz tanto
o passado quanto o futuro serem gloriosos com palavras de ouro – essa página
manchada de sangue, eu digo - foi mais escrita por Jeová do que por qualquer
outro! Ele determinou que Cristo deveria nascer da Virgem Maria, que Ele
deveria sofrer sob Pôncio Pilatos, que Ele deveria descer ao Hades, que da
morte Ele deveria ressuscitar, levando cativo o cativeiro e em seguida reinar
para sempre à direita da Majestade, nas alturas! Não, eu não sei nada além de
que terei a Escritura para a minha justificação quando eu digo que essa é a
verdadeira véspera da Predestinação e que a morte de Cristo é o verdadeiro
centro e a mola principal pela qual Deus formou todos os Seus outros decretos –
fazendo disso a essência e a pedra fundamental sobre a qual a arquitetura sagrada
deveria ser construída! Cristo foi posto à morte pelo decreto previsto e solene
de Deus Pais, e neste sentido, "foi da vontade do Senhor esmagá-lo e fazê-lo
sofrer."
Mas
um pouco mais adiante – a vinda de Cristo ao mundo para morrer foi o efeito da
vontade e do prazer do Pai. Cristo não veio a este mundo por acaso. Ele se
deitou no coração de Jeová diante de todos os mundos, eternamente deleitando-Se
em Seu Pai e ser, Ele mesmo, a eterna alegria de Seu Pai. "Na plenitude dos
tempos" (Efésios 1.10) Deus tirou o Seu filho de Seu seio, o Seu Filho
unigênito, e livremente O enviou para nós. Este foi incomparável, inigualável
amor, - que o Juiz permitiu que o Seu Filho sofresse as dores da morte para a
redenção de um povo rebelde! Eu quero a imaginação de vocês para criar uma cena
dos tempos antigos. Há um Patriarca barbudo que acorda de manhã cedo e acorda o
seu filho, um jovem cheio de força, e ordena que ele levante e o siga. Eles
saem de casa sem fazer nenhum barulho, antes que a mãe acorde. Eles partem numa
jornada de três dias com os seus homens até chegarem ao monte sobre o qual o
Senhor havia falado. Vocês conhecem o Patriarca. O nome de Abraão está sempre
fresco em nossa memória. No caminho, esse Patriarca não troca uma só palavra
com o seu filho. Seu coração está muito cheio para falar. Ele está
sobrecarregado pela tristeza. Deus havia mandado que ele tomasse o seu filho,
seu único filho, e mata-lo na montanha como um sacrifício. Eles vão juntos. E
quem pode imaginar a imensurável angústia da alma desse pai, enquanto ele anda
lado a lado com o seu filho amado, de quem ele será o executor? O terceiro dia
chegou. Os servos são ordenados para ficar no sopé da montanha, enquanto eles
vão subindo para adorar a Deus. Agora, pode alguma mente imaginar como o
sofrimento desse pai supera todas as margens de sua alma, quando, enquanto ele
subia, o seu filho disse, "As brasas e a lenha estão aqui, mas onde está o
cordeiro para o holocausto?‖ Você pode imaginar como ele sufocou suas emoções
e, com soluços, exclamou, ―Deus mesmo há de prover o cordeiro para o
holocausto, meu filho?" Vejam! O pai comunicou ao seu filho o fato de que Deus
demandara a sua vida! Isaque, que poderia ter lutado e escapado de seu pai,
declara que ele deseja morrer se Deu havia decretado isso. O pai toma o seu
filho, prende suas mãos atrás de suas costas, ajunta as pedras, constrói um
altar, deita a lenha e tem o seu fogo pronto. E agora onde está o artista que
pode pintar a angústia da contenção do pai, quando a faca está desembainhada e
ele a segura – pronto para matar o seu filho?
Mas
aqui a cortina cai. Agora a cena escura desaparece com o som de uma Voz dos
Céus! O carneiro preso nos arbustos serve como substituto e a obediência da fé
não precisa ir mais longe. Ah, meus Irmãos e Irmãs. Eu quero tirar vocês dessa
cena e levar a uma muito maior. O que a fé e a obediência fizeram o homem
fazer, esse amor obrigou Deus, Ele mesmo, a fazer! Ele tinha apenas um Filho,
aquele Filho que era o deleite de Seu próprio coração. Ele convencionou a levar
o Seu filho para a nossa redenção, para que Ele não quebrasse a Sua promessa,
pois quando a plenitude dos tempos chegou, Ele enviou o Seu Filho para nascer
da Virgem Maria e sofrer pelos pecados dos homens! Oh, você pode imaginar a
grandeza desse amor, que fez o Deus eterno não apenas colocar o Seu Filho sobre
o altar, mas realmente cumprir o que estava escrito e trespassar a faca
sacrifical no coração de Seu Filho? Você pode pensar em quão esmagador deve ter
sido o amor de Deus para com a raça humana quando Ele completou em ato o que
Abraão fez apenas em intenção? Olhe e veja o lugar onde o Seu único Filho
morreu na Cruz – a Vítima sangrenta da Justiça desperta! Isso é amor de fato! E
aqui nós vemos como foi da vontade do Pai esmagá-Lo.
Isso
me permite pressionar meu texto mais um passo adiante. Amados, não é apenas
verdade que Deus tenha projetado e permitido com complacência a morte de Cristo
– é mais verdade ainda que as imensuráveis agonias que vestiram a morte do
Salvador com terror sobre-humano foram o efeito do pugilismo do Pai de Cristo
de fato! Há um mártir na prisão – as correntes estão em seus pulsos e ainda
assim ele canta. Foi anunciado a ele que amanhã será o dia da sua sentença. Ele
bate as suas mãos alegremente e sorri, enquanto diz, "Amanhã será o trabalho
cortante. Irei me alimentar sobre as tribulações de fogo, mas depois eu cearei
com Cristo! Amanhã é o dia do meu casamento, o dia pelo qual eu há muito
esperava – quando eu assinarei o testamento da minha vida por uma morte
gloriosa."‖ A hora chegou. O homem com as alabardas o precede pelas ruas. Note a
serenidade no semblante do mártir! Ele vira para alguns que olham para ele e
exclamam, "Eu valorizo estas correntes de ferro muito mais do que se fossem de
ouro! É maravilhoso morrer por Cristo!"‖ Existem alguns dos santos mais ousados
recolhidos ao redor da estaca, e enquanto ele tira a suas vestes, antes de se
colocar em frente ao fogo para receber a sua sentença, ele os diz que é algo
tremendo ser um soldado de Cristo – poder dar o seu corpo para ser queimado. E
ele acena com as mãos para eles e diz "Adeus,"‖ com alegre satisfação! Alguém
poderia pensar que ele estava indo para o seu casamento, e não indo ser
queimado. Ele fica diante do fogo. A corrente é colocada em seu meio. E depois
de uma breve palavra de oração, assim que o fogo começa a ascender, ele fala
com as pessoas com audácia viril. Mas ouçam! Ele canta enquanto a madeira
estala e a fumaça sobe. Ele canta e quando suas partes baixas estão queimadas,
ele continua cantando docemente algum Salmo antigo. "Deus é o nosso refúgio e a
nossa fortaleza, auxílio sempre presente na adversidade. Por isso não
temeremos, embora a terra trema e os montes afundem no coração do mar."
Imaginem
outra cena. Lá está o Salvador indo para a Sua Cruz, totalmente fraco e abatido
com o sofrimento. Sua alma está doente e triste com Ele. Não há Calma Divina
ali. Seu coração está tão triste que Ele desmaia nas ruas. O Filho de Deus
desmaia sob uma Cruz que muitos criminosos devem ter carregado. Eles O pregam
na cruz. Não há nenhuma canção de louvor. Ele é erguido no ar e lá Ele
permanece suspenso, preparando-se para a Sua morte. Você não ouve nenhum grito
de exultação. Há uma compressão severa em Sua face, como se uma agonia
indizível estivesse arrancando o Seu coração – como se mais uma vez o Getsêmani
estivesse acontecendo na Cruz – como se a Sua alma ainda dissesse, "Meu Pai, se
for possível, afasta de mim esta Cruz; contudo, não seja como eu quero, mas sim
como tu queres" (Mateus 26.39) Ouçam! Ele fala. Ele não vai cantar as mais
doces canções que já vieram dos lábios do mártir? Ah, não – é um terrível
gemido de desgraça que jamais poderá ser imitado. "Meu Deus! Meu Deus! Por que
me abandonaste?" (Marcos 15.34) Os mártires não disseram que – Deus estava com
eles. Antigos confessos não choraram tanto quando viram a morrer. Eles gritaram
enquanto queimavam e louvaram a Deus em seu suplício. Por que isto? Por que o
Salvador sofreu tanto? Por que, Amados, porque foi da vontade do Pai esmagá-lo!
Esse brilho da Face de Deus que havia alegrado muitos santos a morrer foi
tirado de Cristo! A consciência da aceitação com Deus, a qual havia feito
muitos homens santos receberem a Cruz com alegria – não foi concedida ao nosso
Redentor e, portanto, Ele sofreu em densa escuridão de agonia mental. Leia o
Salmo 22 e aprenda o quanto Jesus sofreu. Pausem nas solenes palavras do 1º,
2º, 6º e seguintes versículos. Sob a Igreja estão os braços eternos. Mas sob
Cristo não havia braço algum! A mão de Seu Pai colocou-se pesadamente sobre
Ele. As pedras superiores e inferiores da Ira Divina O pressionaram e O
esmagaram. E nem uma gota de alegria ou consolação foi concedida a Ele. "Foi da
vontade de Jeová esmagá-lo e fazê-lo sofrer." Isto, meus Irmãos e Irmãs, foi o
clímax da aflição do Salvador – que o Seu Pai virou-se Dele e O fez sofrer.
Assim
eu expus a primeira parte do assunto – a origem do pior sofrimento de nosso
Salvador, o prazer do Pai.
II.
Nosso segundo tópico deve explicar o primeiro, caso contrário, seria um
mistério insolúvel saber como Deus pôde fazer o Seu filho sofrer – o qual era
perfeitamente Inocente – enquanto pobres falhos confessos e mártires não
tiveram tal sofrimento vindo Dele no momento de suas tribulações. QUAL FOI A
RAZÃO DO SOFRIMENTO DO SALVADOR? A nós é dito aqui, "o Senhor faça da vida dele
uma oferta pela culpa."‖Cristo foi assim perturbado porque a Sua alma foi uma
oferta pelo pecado. Agora eu serei o mais simples que eu conseguir enquanto eu
prego a preciosa Doutrina da Expiação de Cristo Jesus nosso Senhor. Cristo foi
uma Oferta pelo pecado, no sentido de ser um Substituto. Deus queria salvar.
Mas se tal palavra for permitida, a Justiça atou Suas mãos. "Eu devo ser
Justo,"‖ disse Deus. "Essa é uma necessidade da Minha Natureza. Firme como o
destino e rápido como a Imutabilidade é Verdade que eu devo ser Justo. Mas o
Meu coração deseja perdoar – para passar pelas transgressões dos homens e
perdoá-los. Como isso pode ser feito?"‖A sabedoria chegou e disse, "Assim
deverá ser feito."‖ E o Amor concordou com a Sabedoria. "Cristo Jesus, o Filho
de Deus, deve ficar no lugar do homem e ser ofertado no Monte do Calvário no
lugar do homem." Agora, notem – quando vocês veem Cristo sendo lançado na Cruz
de madeira, você vê toda a companhia de Seus eleitos ali! E quando vocês veem
os pregos cravados em Suas benditas mãos e seus pés, é todo o corpo da Sua
Igreja que está lá, no seu Substituto, cravado na madeira! E agora os soldados
levantam a Cruz e a colocam no suporte preparado para isso. Seus ossos estão,
cada um deles, deslocados e Seu corpo está tão despedaçado de agonias que não
se pode nem descrever! Esse homem sofrendo ali! Ali está a Igreja sofrendo no
Substituto! E quando Cristo morre, você deve olhar para a Sua morte não como a
Sua própria morte, mas como a morte de todos aqueles por quem Ele foi o Bode
expiatório e o Substituto! É verdade, Cristo realmente morreu. É igualmente
verdade que Ele não morreu por Si mesmo, mas como o Substituto, no lugar de
todos os crentes. Quando vocês morrerem, vão morrer por si próprios. Quando
Cristo morreu, Ele morreu por vocês, se vocês são crentes Nele! Quando vocês
passem pelos portões da sepultura, vocês vão solitários e sozinhos. Vocês não
são representantes de um corpo de homens – vocês passam pelos portões da morte
como indivíduos – mas, lembrem, quando Cristo passou pelos sofrimentos da
morte, Ele foi a Cabeça representativa de todo o Seu povo!
Entendam,
então, o significado no qual Cristo foi feito Sacrifício pelo pecado. E aqui
está a glória dessa questão – foi como um Substituto pelo pecado que Ele
realmente e literalmente sofreu a punição pelos pecados de todos os Seus
eleitos! Quando eu digo isto, eu não estou usando uma figura de linguagem ou
algo do tipo, mas eu realmente quero dizer isto. O homem, pelos seus pecados,
foi condenado ao fogo eterno. Quando Deus tomou Cristo para ser o Substituto, é
verdade, Ele não enviou Cristo ao fogo eterno, mas derramou dor sobre Ele – uma
dor tão desesperadora que foi um pagamento válido até para uma eternidade em
chamas! O homem foi condenado a viver para sempre no Inferno. Deus não enviou
Cristo para ficar no Inferno para sempre. Mas Ele colocou em Cristo uma punição
que foi equivalente a isso. Embora Ele não tenha dado a Cristo o verdadeiro
Inferno dos crentes, deu a Ele uma retribuição igual – algo que foi equivalente
a isso! Ele tomou a taça da agonia de Cristo e colocou nela – sofrimento,
miséria e angústia – tais que só Deus pode imaginar ou sonhar a respeito, que
foram o equivalente a todo o sofrimento, toda a aflição e todas as torturas
eternas de todos que devem ir ao Céu, comprados pelo sangue de Cristo! E você
pergunta, "Cristo bebeu tudo isso por sua escória? Ele sofreu tanto assim?"‖
Sim, meus Irmãos e Irmãs, Ele tomou o cálice e –
“Em
um triunfante gole de amor,
Ele
bebeu toda a condenação.”
Ele
sofreu todos os horrores do Inferno – uma saraivada de ferro caiu sobre ele com
granizos maiores do que qualquer capacidade. Ele permaneceu até que a nuvem
negra esvaziasse completamente. Ali estava a nossa dívida, gigante e imensa.
Ele pagou até o último centavo de qualquer coisa que o Seu povo devia! E agora
não há mais nenhum centavo devido à Justiça de Deus no caminho da punição de
qualquer cristão! E embora nós devamos gratidão a Deus, embora devamos muito ao
Seu amor – nós não devemos nada a Sua Justiça, pois Cristo, naquela hora, tomou
todos os nossos pecados – passado, presente e porvir e foi punido por todos
eles – não devemos jamais ser punidos porque Ele sofreu no nosso lugar! Vocês
conseguem ver, agora, como foi que o Deus Pai O esmagou? Se ele não tivesse
feito isso, as agonias de Cristo não poderiam ser um equivalente aos nossos
sofrimentos. O Inferno consiste na ocultação da face de Deus dos pecadores e se
Deus não tivesse escondido a Sua face de Cristo, Cristo não poderia – eu não
vejo como Ele poderia – ter suportado qualquer sofrimento que poderia ter sido
aceito como equivalente às aflições e agonias de Seu povo!
Eu
acho que ouvi alguém dizer, "Você quer que nós entendamos esta Expiação que
você nos pregou agora como um fato literal?" Eu digo, mais que solenemente, que
sim! Existem no mundo várias teorias sobre a expiação – mas eu não consigo ver
em nenhuma delas alguma Expiação, a não ser nessa Doutrina da Substituição.
Muitos teólogos dizem que Cristo fez algo quando morreu, que permitiu que Deus
fosse justo e ainda Justificador dos ímpios. O que foi esse algo eles não dizem
para nós. Eles acreditam numa expiação feita para todos. Mas, no fim, a
expiação deles é apenas isto – eles acreditam que Judas foi tão reparado quando
Pedro – eles acreditam que os condenados no Inferno foram um objeto da
satisfação de Jesus Cristo tanto quanto os salvos no Céu! E embora eles não
digam isso com todas as palavras, eles ainda querem dizer isto – pois isto é
uma inferência justa, que, no caso das multidões, Cristo morreu em vão – pois
Ele morreu por todos, eles dizem. E foi tão sem efeito a Sua morte por eles,
que embora Ele tenha morrido por eles, eles serão todos condenados depois!
Agora, tal expiação, eu desprezo – eu rejeito! Posso ser chamado de Contra a
Lei, ou Calvinista por pregar uma Expiação Limitada, mas eu prefiro acreditar
numa Expiação Limitada que é eficaz para todos a quem ela foi destinada, a
acreditar numa expiação universal que não é eficaz para ninguém, a não ser que
a vontade do homem esteja de acordo com ela! Porque, meus Irmãos e Irmãs, se
nós fôssemos salvos apenas para que através da morte de Cristo qualquer um de
nós pudesse se salvar depois, a Expiação de Cristo não valeria um centavo, pois
não há nenhum dentre nós que possa se salvar – não, ninguém no Evangelho! Se eu
serei salvo pela fé – se essa fé for o meu próprio ato, sem a assistência do
Espírito Santo, - eu serei tão incapaz de me salvar pela fé quanto de me salvar
pelas boas obras! E depois de tudo, embora os homens chamem isto de Expiação
Limitada, isto é tão eficaz quanto as suas redenções falaciosas e apodrecidas
pretendem ser! Mas vocês conhecem o limite dela? Cristo comprou uma "multidão
que homem nenhum pode contar."‖O seu limite é apenas esse – Ele morreu por
pecadores. Qualquer um nesta congregação que se reconhece, interiormente e tristemente,
como um pecador, Cristo morreu por ele! Qualquer um que deseja Cristo deve
saber que Cristo morreu por ele! Nosso senso de necessidade de Cristo e nossa
busca por Cristo são provas infalíveis de que Cristo morreu por nós! E notem,
aqui está algo substancial – os Armínianos dizem que Cristo morreu por eles. E
depois, pobres homens, eles não têm nada além de um pequeno consolo, pois eles
dizem, "Ah, Cristo morreu por mim – isso não prova muita coisa. Isso apenas
prova que eu serei salvo se me importar com o que serei depois. Eu posso,
talvez, me esquecer de mim. Talvez eu corra para o pecado e pereça. Cristo fez
um bom negócio por mim – mas não o bastante – a não ser que eu faça algo."‖
Mas
o homem que recebe a Bíblia como ela é, diz, "Cristo morreu por mim, então a
minha vida eterna está garantida! Eu sei,"‖ ele diz, "que Cristo não pode ser
punido no lugar de um homem e o homem ser punido depois disso. Não,"‖ele diz,
"eu creio em um Deus justo, e se Deus é Justo, Ele não vai punir Cristo
primeiro, e depois punir os homens. Não – o meu Salvador morreu e agora eu
estou livre de qualquer exigência da vingança de Deus e posso caminhar por esse
mundo em segurança. Nenhum raio pode me atingir, e eu posso morrer
absolutamente certo de que para mim não haverá fogo nenhum do Inferno, pois
Cristo, meu Resgate, sofreu em meu lugar, e, portanto, eu estou liberto!" Oh,
Doutrina Gloriosa! Eu gostaria de morrer pregando isso! Que melhor testemunho
podemos carregar com o amor e a fidelidade de Deus, do que o testemunho de um
Substituto eminentemente satisfatório para todos os que creem em Cristo? Eu vou
citar aqui o testemunho desse profundo teólogo, Dr. John Owen – "A Redenção é o
livramento de um homem da miséria através da intervenção de um libertador.
Agora, quando um libertador é pago para salvar um prisioneiro, a justiça não
demanda que ele deve ter e aproveitar a liberdade comprada por ele com uma
consideração valiosa? Se eu pudesse pagar mil libras pela liberdade de um homem
da escravidão para aquele que o detém – quem tem o poder de libertá-lo e está
contente com o preço que eu dei – não seria injusto para mim e para o pobre
prisioneiro que a sua libertação não fosse concretizada? Pode, possivelmente,
ser concebida a ideia de que existisse uma redenção aos homens, e os homens não
fossem redimidos? Que um preço fosse pago e a compra não fosse consumada? Além
disso tudo, ainda haveria verdadeiros
e inumeráveis absurdos, se a redenção universal fosse aceita. Um preço é pago
por todos, porém apenas alguns são libertos. A redenção de todos consumada, e
ainda assim só alguns são redimidos? O juiz satisfeito, o carcereiro dominado,
e os prisioneiros ainda na prisão? Sem dúvida, 'redenção' e 'universal', onde
grande parte dos homens perece, são tão irreconciliáveis quanto 'Romano' e
'Católico.' Se há uma redenção universal, então todos os homens estão
redimidos! Se eles estão redimidos, então eles estão livres de toda a miséria,
virtual ou realmente, onde quer que tenham sido aprisionados, e isso pela
intervenção de um libertador. Por que, então, não são todos salvos? Em uma
palavra – a redenção feita por Cristo, sendo a libertação completa das pessoas
de toda a miséria, em que foram enlaçadas, pelo preço do Seu sangue – não pode
ser concebida como universal, a não ser que todos sejam salvos! Então a opinião
dos Universalistas não serve para a redenção."
Eu
paro mais uma vez, pois eu ouço uma alma tímida dizer – "Mas, Senhor, eu tenho
medo de não ser um eleito e, se assim for, Cristo não morreu por mim." Pare,
Senhor! Você é um pecador? Você sente isso? O Espírito Santo de Deus fez você
se sentir um pecador perdido? Você precisa da salvação? Se você não precisa
dela, não há dúvidas de que ela não foi prometida para você. Mas se você
realmente sente que precisa dela, você é eleito de Deus! Se você tem o desejo
de ser salvo, um desejo dado a você através do Espírito Santo, esse desejo é um
sinal para o bem. Se você tem orado verdadeiramente pela salvação, você tem aí
uma clara evidência de que você é salvo! Cristo foi punido por você. E se você
sabe disso, você pode dizer –
“Nada
em minhas mãos eu trago
Simplesmente
à Tua Cruz eu me apego”
Você
deve ter tanta certeza de que é eleito de Deus quanto tem de sua própria
existência! Esta é a prova Infalível da Eleição – um senso de necessidade e uma
sede de Cristo!
III.
E agora eu tenho apenas que concluir considerando os BENDITOS EFEITOS da
morte do Salvador. Nisto eu serei breve.
O
primeiro efeito da morte do Salvador é, "ele verá sua descendência."‖Os homens
serão salvos por Cristo. Os homens têm uma descendência pela vida. Cristo tem
uma descendência pela morte! Homens morrem e deixam seus filhos e não veem a
sua descendência. Cristo vive e todos os dias vê a sua descendência posta na
unidade da fé! Um efeito da morte de Cristo é a salvação de multidões. Notem –
não é uma salvação de chance. Quando Cristo morreu, o anjo não disse, como
alguns o tem representado, "Agora pela Sua morte, muitos deverão ser salvos."‖A
palavra da profecia extinguiu todos os "mas"‖ e "talvez." "Pela Sua justiça,
muitos serão justificados." Não havia nem um átomo de chance na morte do
Salvador! Cristo sabia o que estava comprando quando morreu – e o que Ele
comprou, Ele terá – nada mais, nada menos! Não efeito na morte de Cristo
propensa a um "talvez." O "será"‖fez logo a Aliança! A morte sangrenta
de Cristo irá efetuar o seu propósito solene. Cada herdeiro da Graça Divina irá
encontrar no Trono –
“Irá
bendizer as maravilhas de Sua Graça,
E
tornar as Suas glórias conhecidas.”
O
segundo efeito da morte de Cristo é, "Ele prolongará seus dias." Sim, bendito
seja o Seu nome, quando Ele morreu, Ele não acabou com a Sua vida! Ele não
poderia ser como um prisioneiro no túmulo. O terceiro dia chegou e o
Conquistador, levantando de Seu sono, desatou os grilhões da morte e saiu de
Sua prisão, para não mais morrer. Ele esperou os Seus 40 dias e depois com
hinos sagrados, Ele "levou cativo o cativeiro e subiu ao alto.‖" "Pois, quanto a
ter morrido, morreu de uma vez para o pecado; mas, quanto a viver, vive para
Deus,"‖(Romanos 6.10) para não mais morrer –
“Agora
ao lado de Seu Pai Ele assenta,
E
ali triunfante reina,”
O
vencedor sobre a morte e o Inferno!
E,
por fim, pela morte de Cristo o prazer do Pai foi efetuado e próspero. O prazer
de Deus é que este mundo será um dia totalmente redimido do pecado. O prazer de
Deus é que este pobre planeta, há tanto tempo mergulhado em escuridão, irá em
breve brilhar como um sol nascente. A morte de Cristo fez isso! O ribeiro que
fluiu ao Seu lado no Calvário limpará o mundo de toda a sua escuridão. Essa
hora de escuridão no meio do dia foi o nascer de um novo sol de justiça que
nunca cessará de brilhar sobre a Terra. Sim, está chegando a hora em que
espadas e lanças serão coisas esquecidas – quando as armaduras da guerra e o
esplendor da pompa serão todos deixados de lado para alimentar as minhocas ou
para contemplação dos curiosos. É próxima a hora em que a antiga Roma tremerá
sobre suas sete colinas! Quando o emblema de Maomé não mais será reduzido à
cera – quando todos os deuses dos pagãos perderão os seus tronos e serão
atirados às toupeiras e aos morcegos! E depois, do Equador aos Polos, Cristo
será honrado, o Senhor supremo da Terra, de terra a terra, do rio até o fim do
mundo! Um Rei irá reinar, um grito será levantado, "Aleluia, aleluia, o Senhor
Deus Onipotente reina!"‖Então, meus Irmãos e Irmãs, será visto o que a morte de
Cristo realizou, pois "a vontade do Senhor prosperará em sua mão." Amém. Amém.
Amém.